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Pet Book: Peto

23.7.12
Pet Book| Após ter lido Peto, queria de alguma forma contar-vos a história do Peto, mas não algo que fosse tão limitativo como um retrato do livro. Ninguém melhor que Paula Cairo, a autora e dona do Peto, para  vos contar a história do Peto. Leiam até ao fim as palavras da Paula e garanto que não se arrependerão.
 
A bem da verdade devo dizer que nunca pensei escrever um livro e muito menos editar um livro sobre um cão. Porque estamos em Portugal e, como sabemos, infelizmente, os animais continuam a ser tratados com uma desumanidade total onde a punição não existe!

Toda a minha vida vivi com gatos e nunca pensei ter um cão, porque durante 15 anos a trabalhar em jornais diários, era praticamente impossível ter horários, e por isso, ter uma rotina onde pudesse encaixar um canito. Mas em tantos anos de imprensa nunca escrevi uma linha sobre absolutamente nada.

Quando deixei a imprensa escrita e voltei a ter uma vida, decidi ter um cão. Pretendia uma canita pequena para poder levar para todo o lado comigo. Desisti da ideia quando conheci o Peto e a sua história de 12 anos a viver na rua. 

Não consegui ir buscar outro quatro patas sabendo que havia por ali um cão que durante tantos anos ninguém quis...

Assim, passados alguns meses de o ter conhecido e em que o fui conquistando decidi levá-lo para casa nunca imaginando que a vida dele acabaria escrita num livro!

Fui escrevendo um texto por mês ao longo de três anos, porque algumas pessoas me foram pedindo, depois de ter posto umas fotos num site para animais com um texto de apresentação do Peto, algo que, na altura, ninguém ainda tinha feito. 

E assim sem me aperceber as histórias do Peto foram conquistando várias pessoas. Algumas tornaram-se fiéis seguidoras da sua vida mas isso, eu só percebi quando o Peto partiu. Escrever sobre ele e sobre o que nos acontecia foi relativamente fácil. Muitas vezes lhe perguntava sobre o que escreveria em determinado mês e o Peto olhava-me de orelhitas espetadas e cabecita inclinada e foi assim que algumas vezes chegou a lembrança de alguns episódios que vivemos juntos.

Paula  Cairo
Relatar sobre os abusos e a maldade que vi sobre os animais foi o que mais me custou. Dói não ter a quem recorrer, saber que é indiferente à maioria das pessoas e que basicamente os animais não têm direitos nenhuns! É uma frustração horrenda não ter como ajudar tantos animais abandonados. E foi o Peto que me despertou para tudo isto. Nunca imaginei tanta crueldade de forma tão gratuita e tão constante.

Lembro-me da primeira vez que tosquiei o Peto e vi na sua pele, os cortes e as cicatrizes. Fiquei com um nó na garganta. Sabia de algumas maldades a que tinha sido sujeito mas ver e ouvir são coisas muito diferentes.

Excluindo essa parte, escrever sobre o Peto foi terno, libertador e relaxante. Sem ele nunca teria tido a coragem de o fazer para os outros lerem. Fazê-lo virtualmente ajudou. Nunca quis, nem quero ser famosa ou, sequer, conhecida. A única coisa que quero e me interessa é ajudar animais. Com o Peto encarei outra vertente duma realidade crua e brutal que desconhecia. Com ele senti e compreendi o que é verdadeiramente amar.

A melhor parte da minha existência foram os seis anos que vivemos juntos. Anos que nunca esquecerei. Porque as histórias de amor recíproco que se encontram nunca se esquecem. Genuínas e deliciosas como esta, são vivências e passagens únicas numa vida. Um cão que aprende Obediência de Companhia e linguagem gestual com 14 anos é quase inacreditável mas eu na altura não sabia isso e pensava ser comum dependendo da dedicação que se dá a um cão. O Peto foi uma grande lição de vida e coragem da qual só me dei verdadeiramente conta quando ele partiu...

No dia do lançamento do livro do Peto é que tive plena consciência da quantidade de pessoas que seguiam a sua vida descrita em textos mensais. Nunca imaginei ver tanta gente numa livraria por causa de um canito. 

Apesar de não ter sido muito divulgado o livro tem sido um sucesso e eu não podia estar mais feliz pela homenagem, que quem comprou o livro lhe prestou, a ele e a todos os animais abandonados que vivem pelas ruas deste país.

Confesso que viver sem o Peto nos primeiros meses foi muito doloroso. Ainda hoje, quase dois anos depois, custa-me muito falar abertamente sobre isso. O bálsamo para a sua ausência têm sido as três canitas que viviam com ele; a Pátáti resgatada a violentos maus tratos, a Ponchita e a Maggie, ambas retiradas de um canil de abate. Apesar da sua doença crónica que lhe ditava os dias, a Maggie viveu os últimos seis meses de vida do Peto sempre por perto e dedicada a ele. Ele, completamente preto com 15kgs e ela totalmente branca com 4kgs foram os melhores amigos um do outro. A sua dedicação e ternura pelo Peto foi emocionante, deliciosa e inesquecível. A Maggie partiu um ano depois do Peto e para mim foi mais uma perda absurda e terrível. Apesar de já ter perdido vários animais ao longo dos anos nunca me habituarei à sua ausência. 

E todos os dias me lembro dos meus patinhas, dos meus amores que já partiram.

Afinal o tempo não cura nada. O tempo só nos ensina a viver com a dor, com a perda...

Com o livro fica a memória do que passámos, vivemos, amámos e partilhámos juntos. 

Faria tudo novamente. Saber que o livro foi tão bem recebido por quem gosta de animais deixa-me feliz. Constatar que o Peto, um canito sénior, rafeiro e com Leishmaniose conseguiu ver a sua vida editada num livro, em Portugal, deixa-me orgulhosa. 

Sinto que o Peto não viveu em vão e penso no livro sempre como um tributo e um alerta para com todos os animais abandonados, negligenciados e maltratados deste país com leis medievais e com tão pouco respeito pela vida. 

Fui uma privilegiada por ter tido o Peto na minha vida e jamais o esquecerei, tal como nunca me arrependerei de tirar um canito da rua.

O Peto fará sempre e para sempre parte de quem sou. Amá-lo-ei eternamente.
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